Lívio de Morais
HFP

Homenagem A Fernando Pessoa

Sê todo em cada coisa
Põe quanto és no mínimo que fazes
(Ricardo Reis) Fev. 1933


Foi com esta frase "I know not what tomorrow will bring" que, em 1935, Fernando Pessoa "abriu" o caminho da sua mensagem expressa na sua obra literária, ao longo da sua curta vida de 47 anos.
O "amanhã" é tão infinitamente grande quanto universal, apocalíptico e escatológico, como muito bem ele profetizou na sua visão telescópica.
Celebrar o tomorrow de Fernando Pessoa hoje, 110 anos depois, ano da EXPO98, em Lisboa de Pessoa é celebrar todos os dias uma língua que se potenciou à universalidade (Europa, Ásia, América, África).
No actual momento em que se convergem as culturas dos cinco Continentes e Oceanos em Lisboa, não podia faltar um espaço e um marco de quem edificou a Língua Portuguesa e, consequentemente, difundiu a essência antropológIca portuguesa.
Eu, na qualidade de artista plástico, sinto ser meu dever homenagear Fernando Pessoa em nome dos que amam a cultura universal, nesta especial oportunidade em que também comemoro os meus 30 anos de Artes Plásticas.
Apresento, nesta homenagem, a minha selecção, a que considero ser a mais eloquente do poeta e que me inspirou a realizar a minha obra plástica. Entendo que, para Fernando Pessoa, a minha imaginação criadora está em simbiose recíproca.
Agradeço a todos que me facilitaram sonhar acordado e dialogar com o maior revolucionário da literatura portuguesa.
Quero salientar o carinho e apoio que generosamente recebi da sobrinha do poeta, a escritora Dr. Manuela Nogueira, assim como o apoio da Dr. Edite Estrela, da Imprensa Nacional, na pessoa da Dr. Margarida Santos, e da Editora ASSÍRIO & ALVIM, na pessoa do Dr. Herrnínio Monteiro e Dr Lúcia Pinho e MeIo. Da mesma forma que reconhecerei sempre o entusiasmo e total apoio da Dr: Fátima Santos Marques, Directora da Galeria do Coleccionador dos CTT, em Lisboa, no Forum Picoas.
Para melhor compreender o poeta, aqui deixo notas biográficas que ajudarão a leitura da minha obra plástica:
Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888, às 13 horas e 20 minutos, no Largo de S. Carlos, n: 4, 4.º-Esq., em Lisboa, filho de Nogueira Pessoa, natural de Lisboa, 38 anos de idade, e de Maria Magdalena Pinheiro Nogueira, de 26 anos de idade, natural da Ilha Terceira, Açores.
Foi nestas circunstâncias que Fernando Pessoa recebeu o baptismo na igreja dos Mártires e foi criado no meio da cultura de crentes. Seu pai, funcionário público do Ministério da Justiça, era crítico musical, e quando morreu, deixou Fernando Pessoa com apenas 5 anos de idade.
Aos 6 anos de idade morre-lhe o irmão Jorge, altura em que cria o seu primeiro heterónimo, o Chevalier de Pas.
Com apenas 7 anos de idade escreve a sua primeira poesia, uma quadra dedicada à mãe: "A minha Querida Mamã".
Nesta altura, parte com a mãe para a casa do padrasto, o Sr. Comandante João Miguel Rosa (Cônsul de Portugal em Durban), África do Sul.
Inicia os seus primeiros estudos na escola primária de freiras irlandesas; foi nesta altura que fez a sua primeira comunhão.
Em 1901, com 13 anos de idade, escreve a sua primeira poesia em inglês, ano em que regressa a Portugal, navegando os oceanos para acompanhar o corpo da irmã Magdalena Henriqueta, falecida em Durban.
Em 1902, vai aos Açores (Ilha Terceira) com a mãe, para estar com a família da parte materna, depois do que rt:gressa a Durban para frequentar a Commercial School. Faz o Intermediate Examination in Arts, na Universidade do Cabo, com distinção. Aos 17 anos parte para Lisboa definitivamente e passa a viver com a tia-avó, Maria Cunha.
Em 1906, matricula-se no Curso Superior de Letras de Lisboa e passa a viver com a mãe e o padrasto, agora residentes na Calçada da Estrela, n.O 100, I: (Lisboa).
Após a morte da avó Dionísia, deixa Lisboa e vai viver sozinho para Portalegre, depois do que volta a Lisboa para montar uma Tipografia, na Rua da Conceição da Glória, n: 38 e 49, a empresa, de nome IBIS - Tipografia e Editora. Desiste da Tipografia e dedica-se à poesia.
Fernando Pessoa recusa empregos de cumprir horários para se dedicar à vida de escritor. Para isso, passa a viver sozinho no Largo do Carmo, n: 18, 1.º, Lisboa.
Talentoso tradutor que era, apenas com 22 anos de idade, escreve poesia em português, inglês e francês, salientando-se no meio cultural português como fecundo criador da obra literária poética e não poemática.
A sua produção literária foi crescendo a todos os níveis e ao longo de toda a sua vida, chegando a reunir 306 poemas, dos quais 96 foram publicados em livros da sua autoria: 35 Sonnets, Antinous, English Poems I-II, English Poems /Il e Mensagem.
Publicou 205 poemas em periódicos, nomeadamente Presença Contemporânea, Centauro, Revolução, Portugal Futurista, O Notícias Ilustrado, Athena e Oifeu.
Em livros, da autoria de heterónimos que criou, aproximadamente 70, publicou obras poemáticas, assinando Álvaro de Campos (87 poemas), Ricardo Reis (28 poemas), Alberto Caeiro (41 poemas).
Fernando Pessoa alcançou, muito cedo, grande versatilidade,a ponto de produzir mais de 132 escritos não poemáticos: Manifestos, Ensaios Filosóficos e Prefaciais, Críticas Literárias e de Arte, Textos sócio-psicológicos e pedagógicos, ensaios políticos, prosa de ficção, textos de estudo, biográficos e entrevistas.
Fernando Pessoa revelou-se criativo e crítico ao identificar-se com os heterónimos como quem se via ao espelho real. Ele sabia separar o visível do invisível, o real do virtual, razão porque considerava a fotografia uma pseudopresença e indicação de uma ausência contemporânea. Diz que Fernando Pessoa detestava ser fotografado, por isso, afastava-se da objectiva fotográfica, afastava-se dos cães e de lugares desconhecidos.
Esta sublime personalidade da cultura universal, assim convicta, representará para sempre, para todos e para mim uma descoberta e referência de pensamento e criação, razão porque nele a minha Arte sempre encontrará documento e matéria para recriar o que permanece dentro de nós e de quem aspira o sublime e intemporal, porque, para todos nós, há sempre algo para além do "I know not what tomorrow will bring".

Lisboa, Junho de 1998
Lívio de Morais

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